sábado, 27 de março de 2010

A IRA - Um dos sete gatos-pingados do caráter

A IRA
Um dos sete gatos-pingados do caráter


A ira é o violento desejo de castigar os outros. Não falamos aqui da justa ira, que foi, por exemplo, a de Nosso Senhor, quando do Templo expulsou compradores e vendilhões, mas da ira que se manifesta pela exaltação, pelo ódio, pelos acessos de furor, pela vingança, pelos gestos de ameaça.

Aos olhos do egotista, a ira mais não é do que o desejo de pagar a outrem na mesma moeda.

Na imprensa e na tribuna, a ira é chamada "justa indignação". Com esse qualificativo, nem por isso deixa de ser o defeito mercê do qual os espíritos perdem o sentimento da justa medida, o gosto da calúnia, e de atiçar discórdias.

A ira é habitual nas más consciências. Acusado de roubo, oculpado indigna-se com muita mais violência do que o inocente; a esposa infiel enfurece-se no caso de a sua falta ser descoberta; as donas de casa ciumentas e rancorosas "aliviam-se", "descarregando" sobre os criados.

Os egotistas dessa espécie repelem com truculência todos aqueles que lhes desagradam, e maldosamente caluniam aqueles cuja virtude os condena.

A ira comporta vários graus. No primeiro desses graus, manifesta-se através de uma irritabilidade e impaciência exageradas, em presença da mais pequena contrariedade. Se o café não está quente ao pequeno almoço, se o jornal chegou atrasado, logo o ego faz barulho e resmunga.

No segundo grau, a ira ganha aspectos de tempestuosa: a pessoa gesticula, ferve-lhe o sangue nas veias, ruboriza-se, os objetos voam à sua frente, - o que tudo prova que o ego não admite qualquer contrariedade na satisfação dos seus desejos.

A ira atinge o seu terceiro grau quando passa a vias de fato, quando o ódio procura "desforrar-se", quer causando prejuízo a outrem, quer, mesmo, desejando-lhe a ... morte! Muitas são as pessoas que, antes do despertar súbito do ego, ignoram as diabólicas reservas de cólera que nelas existem, latentes.

A ira prejudica o desenvolvimento da personalidade e susta todo o progresso espiritual, não só por perturbar o equilíbrio mental e falsear a capacidade de julgar, mas também por se colocar ante os direitos doutrem, e ainda por destruir o espírito de recolhimento, indispensável para podermos seguir as inspirações da graça.

A ira relaciona-se invariavelmente com alguma decepção do ego. É mal muito difícil de curar, por ter suas raízes no amor-próprio, sua verdadeira causa, ainda que poucas pessoas queiram convir nesta explicação. Um desastre corporal ser-nos-ia, em muitos casos, menos penoso do que a humilhação resultante de termos que confessar que o nosso amor-próprio é a causa dos nossos acessos e... excessos de ira.

(Excertos do livro: Elevai os vossos corações - Arcebispo Fulton F.Sheen)

PS: Grifos meus
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